Tudo olha!
Tudo é e aguarda em silenciosa espera. A espera sem julgamento, em dádiva expectante.
A expectativa do encontro onde a afinidade e o reconhecimento se realizam.
Olhos que te olham procuram os teus em toda a parte. Não as janelas com que vês o mundo, mas aqueles com que o percebes e o incorporas.
Os olhos que alcançam a outra margem, a outra perspetiva, o não-óbvio, o não-dito, o mediato, o além… - a Essência!
Quando te adentras e despes o redor do seu papel efémero de aparência e frágil superficialidade, o chip fotográfico chega à lente mais dotada do teu sentir. Os sentidos fundem-se e mesclam-se como as cores de uma opala. É aí nesse instante que os olhos se olham.
Olhemos movidos pela vontade curiosa do outro que é, sem a arrogância do ego que nos habita, numa assumida presença de igual diferença. Poderemos, assim, tocar a manifestação da admiração, da surpresa e tornar possível o encantamento e o impulso de buscá-lo. Olhar para acolher é ver algo do que somos no que nos olha, seja árvore, folha, asa ou flor de giesta.
Todo o lugar é mundo. Todo o tempo, vivência. Toda a consciência, crescimento.
Assim, a viagem da vida que passa perpassa, também, a ligação a um exterior que escolhemos reconhecer como existência válida que nos afeta dentro, que percorre o labirinto das sensibilidades até onde o fôlego conseguir sorver a latência que povoa cada instante e nos procura os olhos do coração para passar a Ser, para nós, algo que não cabe numa frase começada por “teoricamente”…
Olhemos vendo, pois, para cima, para baixo, para fora e, se fecharmos os olhos, que seja para unificar, num mesmo véu de virtude, a Vida.
Olhemos com verdadeira humildade e jamais nos sentiremos sós, pois encontraremos um número infinito de olhos que como nós, esperam nos bastidores do estarmos aqui.
Afinal, no fundo dos olhos de um gato, um Deus se expressa!